domingo, 12 de janeiro de 2014

Capitão Phillips | Crítica


Capitão Phillips | Crítica
Paul Greengrass transforma história real em um interessante filme sobre desproporções

Marcelo Hessel

Captain Phillips
EUA , 2013 - 134 minutos
Suspense

Direção:
Paul Greengrass

Roteiro:
Billy Ray, Richard Phillips (livro), Stephan Talty (livro)

Elenco:
Tom Hanks, Barkhad Abdi, Barkhad Abdirahman, Faysal Ahmed, Mahat M. Ali, Michael Chernus, Catherine Keener, David Warshofsky, Corey Johnson, Chris Mulkey, Yul Vazquez, Max Martini
Ótimo
capitão phillips


Robert S. McNamara, ex-Secretário de Defesa dos EUA nos anos 1960, dizia que a proporcionalidade deveria ser uma regra na guerra - sempre revidar um ataque com uma reação à altura - mas o país, em sua hegemonia armamentista, hoje nunca esteve tão longe de colocar isso em prática. Capitão Phillips, primeiro trabalho do diretor Paul Greengrass desde Zona Verde, é um ótimo filme sobre desproporção.

O longa adapta A Captain's Duty, livro escrito pelo Capitão Richard Phillips, que em 2009 teve seu cargueiro, o Maersk Alabama, sequestrado por piratas somalis. Tom Hanks interpreta Phillips, e a desproporção já se estabelece desde as primeiras cenas: o capitão está preocupado com a sua carga horária, assim como seus marujos, enquanto na Somália as relações de trabalho - se é que dá pra chamar assim a convocação à ação armada que presenciamos no início - são bem distintas.

Todo o filme se estrutura a partir dessa oposição: de um lado Phillips, suas normas de segurança, sua ordem constituída e bem azeitada, e do outro Muse (Barkhad Abdi), líder mambembe dos piratas, e seu desejo suicida de se inserir no capitalismo do qual Phillips é o representante imediato. De início Greengrass filma sem pressa os contêiners sendo empilhados, a rotina do porto, porque registrar o gigantismo da situação - o capitalismo como uma máquina, um colosso em movimento lento mas constante - é vital para ilustrar os opostos, enquanto na Somália come-se mato e tudo parece fadado ao acaso, à direção do vento.

O que impede Capitão Philllips de se tornar um filme panfletário contra o descaso com que o mundo trata a África, em boa medida, é que não há muito espaço para discursos - depois que a premissa se estabelece, o resto é ação. E então as oposições desproporcionais se tornam físicas mesmo: o cargueiro contra o bote dos somalis, o corpo subnutrido dos africanos contra a muralha de músculos que são os fuzileiros navais (Greengrass filma os militares nus, antes de vesti-los, para deixar essa oposição bem clara).

Então embora tenhamos aqui, reproduzidos, os elementos que tornaram o cinema de Greengrass inconfundível pós-Bourne - a câmera na mão, que treme mas sabe o que procura, e a trilha sonora de suspense bem marcada, quase repetitiva - Capitão Philllips é um filme muito particular, por conta dessa questão das desproporções.

E o diretor encontra em Tom Hanks, ator associado a transformações corporais (Philadelphia, O Náufrago), a representação perfeita dessa fisicalidade que o filme almeja. O Phillips interpretado pelo ator vai da mais plena ordem (o domínio do seu ofício, suas normas) à completa desarticulação (é capaz que ele ganhe o Oscar só por causa da cena final), e não seria exagero dizer que o capitão Phillips se despedaça por perceber, de repente, que neste mundo a ordem econômica e política, com seu suposto igualitarismo, é só uma grande ilusão.










Reportagem e fotos retiradas do site Omelete.


Opinião de Ricardo Tavares: "O filme começa mostrando a vida tranquila de Phillips, um dia comum de trabalho de um capitão, viagem até o local, embarcar no navio, etc. Até algo ser detectado no radar, a partir deste momento a tensão começa e não termina até o final do filme. Um dos melhores filmes de 2013 e um provável concorrente ao Óscar, grande atuação de Tom Hanks, vale a pena assistir. Nota: 10,00". 















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